no meio do outono
versos caem amarelos
folha a folha
sob a amendoeira
jogadores de xadrez
tarde de outono
chuva
outonando
passa
vento de outono
o inverno conta segredos
ao abacateiro
lua crescente
onde está a outra parte?
derramou no mar
lua crescente
na outra parte escondido
o breu do mar
fim do outono
as nuvens desfolham
pingos de chuva
Harusame
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Lixo e contraditoriedade/Sábado, 11 de Junho, Outono de 2011.
Agora há pouco, enquanto estudava Espanhol sentado no sofá do meu kitnette, fui surpreendido por vozes exaltadas na rua, acompanhadas por ruídos de coisas sendo arrastadas. Como sei que o meu gato, Lennon, é muito enxerido, e que os meus vizinhos não são muito simpáticos aos gatos, resolvi sair para chamá-lo, supondo que pudesse se tratar de algum princípio de briga envolvendo várias pessoas.
Fechei o livro e saí.
Na rua, na esquina próxima à minha casa, quatro vizinhas praguejavam contra o lixo acumulado pela vizinhança e o espalhavam pela rua, bloqueando a passagem. Fiquei irado, pois há muito eu venho sugerindo aos vizinhos que façamos alguma ação organizada envolvendo inclusive, além da exigência de um container, um jardim onde costumam depositar lixo. Para mim aquele espetáculo seria estéril. Não que eu não goste de um agito reivindicatório, mas no meu acesso sectário, a coisa estava sendo mal conduzida.
Lennon estava observando o show. Eu o chamei. Ele veio. Nós entramos.
Sentei no sofá, e algo me incomodou os glúteos. Eu tinha sentado sobre o Dharmapada. A visão do Buddha sereno na capa cortou-me como uma espada. Senti-me ridículo, e ri, diante de minha ira patética. Então fiz esse poema:
sei que ego é nada
estou tão irritado!
a lava flui
Assim como a lava, rocha tão aparentada com o fogo, flui por rios subterrâneos, eu, budista, ciente da inutilidade de pegar carona nos loucos cavalos da ira, não raro enfezo-me todo e praguejo aos borbotões, contraditório, como a Natureza.
Fechei o livro e saí.
Na rua, na esquina próxima à minha casa, quatro vizinhas praguejavam contra o lixo acumulado pela vizinhança e o espalhavam pela rua, bloqueando a passagem. Fiquei irado, pois há muito eu venho sugerindo aos vizinhos que façamos alguma ação organizada envolvendo inclusive, além da exigência de um container, um jardim onde costumam depositar lixo. Para mim aquele espetáculo seria estéril. Não que eu não goste de um agito reivindicatório, mas no meu acesso sectário, a coisa estava sendo mal conduzida.
Lennon estava observando o show. Eu o chamei. Ele veio. Nós entramos.
Sentei no sofá, e algo me incomodou os glúteos. Eu tinha sentado sobre o Dharmapada. A visão do Buddha sereno na capa cortou-me como uma espada. Senti-me ridículo, e ri, diante de minha ira patética. Então fiz esse poema:
sei que ego é nada
estou tão irritado!
a lava flui
Assim como a lava, rocha tão aparentada com o fogo, flui por rios subterrâneos, eu, budista, ciente da inutilidade de pegar carona nos loucos cavalos da ira, não raro enfezo-me todo e praguejo aos borbotões, contraditório, como a Natureza.
Safra do primeiro semestre de 2011/Outono
fazendo kata
nenhum pensamento
o gato se esconde
marulho
sussurro arcano
do mar
quatro Nerudas
entre livros de Budismo
o Dharma os cerca
a vida dela
perde a cor e o sentido
depois da novela
um grito
o verso escorregou
caiu na página
cachorro morto
sobre palmas de coqueiro
eu também
um dia
o mar me chama
o gato exige colo
rei da casa
dia frio
com céu limpo
sentir o mar
Estado
Máscara de pedra
Re-movível
lua minguante
sinfonia dos grilos
estrelas sonoras
corte na pele
um riso largo e sangrento
faz troça da dor
Harusame (Rafael Medeiros)
nenhum pensamento
o gato se esconde
marulho
sussurro arcano
do mar
quatro Nerudas
entre livros de Budismo
o Dharma os cerca
a vida dela
perde a cor e o sentido
depois da novela
um grito
o verso escorregou
caiu na página
cachorro morto
sobre palmas de coqueiro
eu também
um dia
o mar me chama
o gato exige colo
rei da casa
dia frio
com céu limpo
sentir o mar
Estado
Máscara de pedra
Re-movível
lua minguante
sinfonia dos grilos
estrelas sonoras
corte na pele
um riso largo e sangrento
faz troça da dor
Harusame (Rafael Medeiros)
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